Opinião

Carne bovina, saudável e ambientalmente correta

Divulgação - DP -

Por José Fernando Piva Lobato
Ph.D., consultor da Farsul

Tendo sido corresponsável pela formação de centenas de agrônomos e veterinários nos últimos 50 anos, mais recentemente de algumas dezenas de zootecnistas, estudantes das Faculdades de Agronomia e Veterinária da UFRGS, tive a honrosa responsabilidade de contribuir para os seus conhecimentos e para a melhoria da produção e produtividade de bovinos de corte nos diversificados ambientes do subtrópico brasileiro.

Ensinamos a entender a diversidade de solos, seus potenciais de usos e capacitações, agricultáveis (lavouras) ou os rasos, somente próprios para pastejo pelos ruminantes, os quais transformam as forrageiras ali existentes, as quais não consumimos, em ricas fontes de proteínas nos conteúdos de carnes e leite. Proteínas e minerais essenciais aos humanos. Ensinamos a execução de práticas sanitárias, a atentar às oportunidades e as limitações que as quatro estações do ano nos impõem ano após ano. A integrar e a manejar a pecuária com as lavouras de grãos em áreas de solos cultiváveis. Entender, valorizar e estimular a aplicação, para quando já na “vida”, como profissionais, a integração e a interação dos solos, plantas e animais. Suas benesses crescentes para a produção de alimentos e o meio-ambiente, quando conduzidas por “maestros”, técnicos e pessoas com conteúdo, produtores, os quais sabem harmonizar e executar práticas enriquecedoras de sistemas produtivos. Estes sistemas, com estes profissionais melhor preparados, mais capacitados, com maior conteúdo técnico científicos e conscientização ambientais e sociais, têm tornado o Brasil um avassalador produtor de alimentos saudáveis para a nossa população e, dizem, para mais um bilhão de pessoas nesse mundão. Assim, trazendo divisas do exterior para o equilíbrio das contas dos governos brasileiros, além de possibilitar a paz ao contribuir na alimentação de pessoas de outras sociedades.

Em poucas palavras, chegamos aos produtos do agro brasileiro, suas qualidades e segurança alimentar, que nos permitem ingerir e a exportá-los cada vez mais, para outros países muito exigentes em segurança alimentar para os seus povos.

A pecuária de corte normalmente vista somente pela saudável carne, e o couro, com a sua existência contribui para a existência de 49 segmentos industriais. Ou seja, onde você, caro leitor, pode não atentar, temos a pecuária de corte contribuindo com o emprego e os sonhos de cada pessoa que o emprego proporciona. Sim, e com a economia do País, com seus produtos e subprodutos. Muito menosprezada por alguns que a desmerecem, a pecuária faz parte da preservação do ambiente pastoril, da sua beleza, pois com o pastejo está a consumir gramíneas e leguminosas, plantas outras arbustivas e, assim, evitando a regeneração vegetal gradual e grosseira que ocorre em curtos períodos. Se um dia deixar de existir ruminantes em nossos campos, voltaremos a ter só arvoredos em solos não cultiváveis ou não pastejáveis. Os pastejos moldam as fitofisionomias, moldam a beleza dos campos, que nos encantam, que nos fazem suspirar, que nos enchem de orgulho de sermos gaúchos, que nos emociona e nos enche os olhos por estarmos em ambientes lindos, construindo um balanço positivo para o nosso ambiente. Sim, pecuária com ruminantes, conduzidas com ofertas forrageiras adequadas aos próprios, capta carbono, descarboniza, e enriquece o solo e o ambiente. Pesquisas brasileiras e gaúchas, não as extrapoladas de outros países e climas, têm demonstrado e publicado estes fatos no mundo científico.

E a carne bovina, ultimamente vilipendiada por alguns, desconhecedores do todo maior que constitui a pecuária de corte, originando bem-estar e realizações de vida a milhares de pessoas, além de ser fator de equilíbrio para o meio-ambiente, deve continuar a ser um componente de uma dieta saudável diariamente.

A carne em si, em sua constituição, é riquíssima em proteínas (isoleucina, lisina, leucina, triptofano, treonina, metionina, fenilamina, valina, histidina), em vitaminas do complexo B (niacina, tiamina, riboflavina, ácido pantotênico. Também é rica fonte de minerais (ferro na forma heme, a mais assimilável, zinco, fósforo, potássio e magnésio, de ácido linoleico conjugado (CLA), o qual é quase um “remédio”, pois é anti-carcinogênica, anti-aterosclerose, antitrombótico, hipocolesterolêmico, contribui no aumento de massa corporal, reduz a gordura corporal, previne diabetes e fortalece o sistema imune. Fornece nutrientes essenciais para o desenvolvimento infantil e saúde dos adultos. Comparada a uma outra carne, também expressiva fonte de proteína, a carne bovina tem três vezes mais zinco, seis vezes mais ferro e oito vezes mais vitaminas do complexo B, e somente uma grama a mais de gordura saturada. Mas, a grama de gordura saturada a mais tem em sua constituição 1/3 de ácido esteárico, inofensivo para a saúde humana e, assim, o potencial de aumentar o nível de colesterol do sangue é similar entre a carne bovina, a carne de peixe e a de frango, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (2001). E mais, por exemplo, a gordura de uma chuleta é 51% monoinsaturada, da qual a quase totalidade é o saudável ácido oleico (o mesmo do azeite de oliva), conforme Gary Staubs do mesmo Departamento de Agricultura, também referido pelo respeitado Dr. Drauzio Varella (2005).

Em trabalho de pesquisa com consumidores voluntários saudáveis do corpo de funcionários do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, o consumo de 120 gramas diárias de entrecot não alterou o perfil lipídico destes 70 consumidores, mostrando ser a carne bovina saudável em dois períodos de fornecimento de 26/27 dias de consumo, conforme regras de pesquisa da área médica. Projeto aprovado nas Comissões de Pesquisa da UFRGS e do Instituto de Cardiologia, por nós conduzido em parceria com o cardiologista Dr. Iran Castro, diretor do Instituto, teve 60 amostras dos entrecot analisadas em laboratório com resultados significativos evidenciando a saudabilidade da carne bovina: o ácido esteárico, saturado e inofensivo a saúde humana, foi 37% dos ácidos saturados identificados, e o ácido oleico, monoinsaturado, foi 83% dos monoinsaturados. Entrecot de novilhos precoces, dois anos, Hereford e Brafords, da Estância Guatambu, terminados com acabamento mínimo “3” em pastagens de azevém e trevo branco, ou em confinamento “light” (37% silagem de planta inteira), curto, de 69 dias, sistemas estes de terminação que não diferiram estatisticamente entre si nos valores acima referidos. No entanto, os terminados nas pastagens de azevém e trevo branco tiveram na constituição da carne significativos maiores teores de ômega 3 e melhor relação ômega 6/ ômega 3.

A exemplo dos peixes de águas oceânicas profundas, que se alimentam do fitoplâncton dos mares, ricos em cloroplastos, os bovinos que pastam se alimentam dos mesmos cloroplastos existentes em forrageiras de nossos sistemas de produção. As forrageiras azevém e trevo branco têm maior conteúdo (70%) de ácidos linolênico e linoléico, poliinsaturados, sendo a concentração maior nos estágios iniciais dos ciclos forrageiros. A exemplo de nós que somos o que comemos, os animais em sua constituição também são o que comem. Simples assim.

A carne bovina é um alimento saudável, componente de uma dieta equilibrada. Evoluímos como espécie no decorrer dos séculos e aqui chegamos comendo carnes as mais variadas. É natural com a evolução dos conhecimentos técnicos, com as crescentes facilidades de comunicação instantânea, com as novas gerações de diferentes países emigrando, constituindo famílias, e assim levando hábitos regionais de seus países, surgem e se disseminam novos hábitos alimentares.

A carne bovina com sua constituição sendo quase uma fonte completa de nutrientes, com novilhos precoces produzindo carnes macias, suculentas e de sabor inigualável, sendo a carne possível de ser consumida diariamente com prazer em diferentes arranjos culinários, é natural que com o avanço das técnicas de laboratório pessoas criativas queiram reproduzi-la, imitá-la, ou mesmo substituí-la por outras dietas.

No entanto, notícias sobre o comércio destes produtos de laboratório imitando a verdadeira e rica fonte de nutrientes que é a carne, alertam serem aqueles 40 a 60% mais caros. Conforme matéria da Revista Veja, é preciso também ficar atento às suas calorias. Sanduíches com imitações de carne com base vegetal não necessariamente engordam menos os seus consumidores. Para especialistas, os plant bases ou cell bases trazem ressalvas. A principal é que são alimentos ultraprocessados. Portanto, não devem ser tratados como saudáveis. “Apesar de serem vegetais, ainda são alimentos industrializados.” Nesta matéria da Revista Veja, com base em nutricionistas ali referidos, o consumo habitual de processados e ultraprocessados têm relação com obesidade, câncer, depressão, hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes. 

Em 22 de maio passado circulou nas mídias os resultados referidos por Amy Quinton de uma pré-publicação da Universidade da Califórnia-Davis de que os custos ambientais de produtos substitutos da carne bovina, com base em células de bovinos, têm custos ambientais maiores e piores do que o de uma pecuária de corte bem conduzida.

Se posso sugerir ao caro leitor, além de agradecer se aqui chegou na leitura deste texto, continue comendo carne bovina. Além de um importante componente de uma dieta diária equilibrada, você estará contribuindo para o ambiente social, mantendo empregos diretos e indiretos. Contribuirá para a manutenção do visual agropastoril do Estado do Rio Grande do Sul, enriquecendo o ambiente, pois temos um balanço positivo, descarbonizante, onde o pastejo correto dos ruminantes e seus dejetos permitem a reciclagem de nutrientes, o aumento da massa de raízes das plantas forrageiras, o que beneficia imensamente a produtividade das lavouras de grãos em sucessão.

Ao término, com o máximo respeito ao caro leitor, ao consumirmos carne bovina, além de nos nutrirmos e bem, estaremos preservando a nossa história, a nossa cultura, o ambiente e faremos crescer a economia do Rio Grande do Sul e do Brasil.


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